Dizem que os ressentimentos são um veneno para adictos. Que eles martirizam os dependentes químicos no mais profundo de suas almas. Porém, quando você se defronta com o ressentimento que os outros tem, principalmente quando voltados não contra si próprios, mas contra o adicto. Quando, por conta de uma questão qualquer, uma discussão por outras razões, vem à tona uma enorme carga de sentimentos represados e palavras não ditas que, de sopetão, revelam que por baixo daquelas águas plácidas havia um vulcão adormecido. E cada mão que foi levantada para te ajudar estava sendo contabilizada no barril dos sofrimentos não ditos, que são como um barril de pólvora: quando explodem levam tudo junto. Hoje vivi esta situação. Não fiquei com vontade de me drogar, mas fiquei com muita vontade de ir embora, de sumir, de ir para algum lugar onde eu não precise ter de aceitar pacificamente a acusação da dor que eu causei na vida das pessoas. E esta dor ainda esta ali, viva, pronta para dar o bote quando abrir uma brecha. Quando se fala que adicto é frágil, isso não é verdade. O que mais nos fragiliza é a droga, porque em recuperação temos que lidar com a eterna culpa das insanidades que cometemos quando estávamos chapados. Não dá para se iludir muito: o ressentimento está ali, latente, até o momento em que ele desperta e alguém resolve de dizer "umas verdades". É um salve-se quem puder. Nesta horizonte de terra arrasada, quase nada fica em pé.
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