A dependência química é uma doença que afeta todos os segmentos da população, sem distinção de raça, cor, credo, sexo, orientação sexual ou profissão. Os profissionais de saúde são afetados de forma semelhante ao restante da população, talvez tendendo ao uso abusivo de medicamentos psicotrópicos por uma maior facilidade de acesso. Isso não quer dizer que o uso do álcool e outras drogas não esteja presente. Questões como sobrecarga de trabalho, frequentemente em condições inadequadas, e auto-medicação, podem ser vistas como determinantes usuais do uso de substâncias. O uso de opióides é um grave problema, pelo seu alto potencial dependógeno e risco de morte por overdose. Os profissionais de saúde, particularmente os médicos com transtornos por uso de substâncias, relatam dificuldades no trabalho, desemprego, problemas ético e jurídicos. Afirma-se que quando as dificuldades no trabalho veem à tona, a vida pessoal e familiar do médico já está destroçada. Embora existam vários artigos que estudem o problema publicados na literatura científica, não existem iniciativas atuais no Brasil que deem suporte aos profissionais de saúde afetados pela adicção. Pelas próprias característcas da doença e da profissão, uma perspectiva moral do problema acaba afastando as pessoas do tratamento. O CREMESP, em 2003, criou um programa, relativamente bem-sucedido enquanto vigorou, porém com um final melancólico, cerca de 3 anos após seu início.
Os países anglo-saxônicos, em particular os EUA, Grã-Bretanha e Austrália possuem programas oficiais para suporte de médicos dependentes. Gostaríamos de comentar 3 iniciativas médicas de suporte, através de grupos de mútua ajuda, baseados na filosofia dos Doze Passos. Nos Estados Unidos, a organização é chamada de IDAA - International Doctors in Alcoholics Anonymous , na Grã-Bretanha de BDDG - British Doctors and Dentists Groups e na Austrália são os Australian Doctors in Recovery. Em geral, estes grupos trabalham com discussões online via e-mail, que podem ser relacionadas à dificuldades pessoais e ocupacionais, ou à tópicos provenientes da literatura de AA e NA. Após a Pandemia, as reuniões via internet vem se tornando uma ferramenta cada vez mais utilizadas. Anualmente estas associações promovem um grande encontro, onde ocorrem inúmeros "meetings", trabalho de Passos e uma agenda científica, focada em uma abordagem científica às adicções. Estes encontros são abertos a profissionais de saúde do mundo todo.
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