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Fissura

Atualizado: 20 de mai.

"A fissura ( craving ) é questão central no cuidado a pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas, sendo considerada uma incapacidade de controlar o desejo pelo consumo." Esta é uma definição psiquiátrica da Fissura. Como que um adicto percebe isso? Relembrando uma das máximas de NA, os "evite-se", evitar pessoas, lugares e hábitos da ativa, ou a fome, o cansaço, a solidão e a raiva . Provavelmente, caso a pessoa deixar de respeitar estas sugestões, ela estará sujeita, ou vulnerável, à fissura. A fissura é o estado mental que antecede a recaída. Ela é passageira - alguns sugerem que ela dura 8 minutos. Não creio que um evento tão impactante na dependência química possa ser resumida de uma maneira tão simplória. A questão essencial me parece que está relacionada no manejo da Fissura . Uma forma claramente errônea de lidar com a fissura é nutrí-la, ou seja, ao invés de buscar estratégias para superá-la, o adicto faz exatamente o contrário: vai à lugares, procura pessoas - o simples ato de enviar uma mensagem para alguém com quem costumava usar já é acender um fio de pólvora - e alimenta hábitos, como dormir e acordar tarde.... Todas essas atitudes tem um enorme poder de modificar o funcionamento de seu cérebro. Um exemplo: você está tranquilo, fazendo "a próxima coisa certa", quando, de repente, passa pela sua cabeça mandar uma mensagem para X. Você sabe que não é uma boa ideia. X é alguém que está claramente vinculado ao seu uso de drogas. Só a ideia já provoca uma modificação do pensamento - este é o momento que precisa ser percebido com grande cautela. É hora de buscar estratégias para lidar com a fissura, ou você estará em lugar muito perigoso - e posso falar com propriedade porque já estive neste lugar centenas de vezes.

Mas algo já aconteceu: você começa a se sentir mal, pode ter náuseas, sudorese, palpitações, tremores, vontade de ir no banheiro - dependendo da droga podem haver algumas manifestações diferentes. O seu pensamento já se encontra em outra rotação, a capacidade de decidir, fazer escolhas e medir as consequências dos seus atos já está indo pro brejo. E se torna cada vez mais difícil sair dessa. Começam a vir os pensamentos.... Hoje eu vou usar só um pouco, por umas 2 horas, e ninguém vai saber. Você já fez isso dezenas, quando não centenas de vezes, e nunca deu certo. "Insanidade é repetir os mesmos erros e esperar resultados diferentes." O autor desta frase é desconhecido, embora às vezes se atribua à Einstein. Caso você atue, ou seja, vá procurar a pessoa, ou o lugar que está vinculado ao uso da substância que você "elegeu", você está em maus lençóis: a possibilidade de uma recaída (ou um lapso) é enorme. A fissura deve ser manejada desde seu início. Desta forma você pode desarmar a bomba e não sofrer suas consequências desastrosas. Achei interessante este modelo de enfrentamento da fissura da SMART Recovery, uma organização de mútua ajuda que surge como uma alternativa às irmandades de Doze Passos, pois enxerga a adicção e a recuperação de uma maneira diversa. As proposições para o enfrentamento da fissura (ou "urgências") são:

  1. Espere - a fissura vai passar;

  2. Fuja - saia do lugar ou da situação que está provocando a fissura;

  3. Aceite - tenha consciência que a fissura é algo natural e esperado na adicção e que e que é momentânea;

  4. Raciocine - lembre-se de como foram outras ocasiões que você passou pela mesma situação e do que aconteceu quando você cedeu aos seus impulsos;

  5. Substitua: procure fazer alguma coisa - tomar um banho, comer alguma coisa, caminhar, fazer alguma atividade física, rezar, meditar, ler ou - uma excelente decisão - converse com alguém da família, com seu terapeuta, com seu padrinho ou companheiro ou vá a uma reunião, se for possível.

A boa notícia é que a fissura é mais frequente e mais intensa nos primeiros meses de recuperação. A medida em que passa o tempo elas vão ficando mais espaçadas e menos intensas. Mas isso não significa que a pessoa deva baixar a guarda. A Recuperação é um processo constante e progressivo. Muitos adictos - e como sempre também estamos falando do álcool - após anos de abstinência descuidaram de sua recuperação e viveram o (quase) inevitável desenlace - uma recaída, às vezes pior do que do que a pessoa havia vivido antes.


A pintura que ilustra o post é de Jean-Michel Basquiat.

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