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Foto do escritorJosé Lurker

Ibogaína

Atualizado: 20 de mai.

Não existem tratamentos farmacológicos para a dependência à cocaína - em estudos somente uma vacina. Em geral, os medicamentos usados são dirigidos às comorbidades que podem acompanhar o quadro de dependência, como TDAH, transtorno bipolar e quadros ansiosos. Este últimos podem estar presentes de maneira intensa nos primeiros dias de abstinência da substância e sedativos podem ser de grande valia, particularmente em ambientes assistidos ou supervisionados.

O que é a Ibogaína?

A iboga - Tabernanthe iboga - é uma planta com propriedades psicodélicas que é consumida pelo povo Bwiti, do Gabão, de forma ritualística, há cerca de 2000 anos. Os primeiros contatos de ocidentais com a Iboga foi através de exploradores franceses e belgas, ainda no século XIX. Ao longo do século XX procedeu-se à síntese da ibogaína, a substância ativa da iboga, que age sobre o sistema nervoso central.


A descoberta da ibogaína como uma substância que poderia ter um papel coadjuvante no tratamento da dependência química, particularmente por heroína e cocaína, se deu quando o americano Howard Lotsof e alguns amigos, todos dependentes de heroína, tiveram contato casual com a ibogaína. Lotsof tinha 19anos. Aquela experiência mudou sua vida. Ele percebeu que, após o uso daquele alucinógeno africano, suas síndromes de abstinência tiveram uma redução de intensidade - da mesma maneira que a vontade de usar heroína. Convencido de que havia encontrado um caminho para o tratamento das adicções, Lotsof tornou-se um entusiasta da Ibogaína e levou esta bandeira até sua morte em 2010, aos 66 anos, por câncer no fígado.

No Brasil ela é ilegal?

No Brasil a Ibogaína não é regulamentada pela ANVISA, mas não é considerada ilegal. A agência, embasada em pareceres da ABEAD e depoimentos de médicos especialistas em dependência química afirma não existirem evidências robustas que justifiquem o uso da droga, e que a mesma não está isenta de riscos. Por outro lado o psiquiatra Dartiu Xavier e o clínico Bruno Rasmussen publicaram um trabalho com o relato de sua experiência com a substância em nosso país. Um cuidado a ser tomado é que abundam ofertas para experiências com Ibogaína em clínicas sem supervisão médica e com a substância de origem obscura.

Uma experiência transcendente, profunda e assustadora

Eu tive uma experiência com Ibogaína. O tratamento era em uma cidade do interior de São Paulo, para onde desloquei-me; lá fui recebido pelo médico. Ele me explicou todos os passos do tratamento. Eu estava há mais de 30 dias em abstinência - requisito para o uso de Ibogaína - e tinha feito um eletrocardiograma e uns exames de sangue dias antes. Fui para um hotel, onde passei a noite. No dia seguinte fui para o local onde a substância era administrada - um antigo hospital psiquiátrico. Estava em jejum. Logo que cheguei checaram meus sinais vitais e em seguida veio o médico e me ofereceu um punhado de pílulas coloridas. Ele me orientou que eu ficasse deitado e só me levantasse com ajuda da enfermagem (o que não fiz, achei que estava bem e fui sozinho no banheiro... mas não aconteceu nada...). A cada hora o médico vinha ver se estava tudo bem. Lá pela terceira hora ele veio e perguntou se estava tudo bem. Eu disse que sim, só lamentava que tinham resolvido cortar a grama naquele dia, bem do lado do meu quarto. Ele sorriu e disse: está começando. Tive uma rápida visão de uma senhora preta que descia por uma escada ali ao lado. E realmente começou. A ibogaína é uma droga onirógena (cria um estado semelhante ao sonho) e tem uma característica muito peculiar - ao abrir os olhos você tem plena consciência do que ocorre, mas ao fechá-los você adentra outro mundo - ou outras dimensões. Memórias muito distantes surgem com uma nitidez quase fotográfica, as pessoas relevantes de sua vida peregrinam pelo seu sonho, questões ancestrais e míticas da humanidade se fazem presentes. Naquele momento tive contato com meu Poder Superior, o planeta Terra, que funcionava com um organismo vivo, a tudo conectado. A distinção entre aquilo que nos faz bem e aquilo que nos faz mal (por exemplo, a droga) é bem evidente. As coisas começam a abrandar depois de umas 5 horas. Dormi lá no hospital e no dia seguinte fui embora. A única coisa que senti de errado foi uma forte dor de cabeça, que aliviou com analgésicos comuns. A sensação é de que meu cérebro tinha sido reinicializado. Tive um período mais prolongado de abstinência após o uso da substância (embora tivesse tido um lapso algumas semanas depois). E o que ficou? Creio que a Ibogaína é algo muito interessante e não tenho dúvida que pode ser um coadjuvante no tratamento das adicções, particularmente em um momento que a psiquiatria volta-se para as possibilidades terapêuticas dos psicodélicos, desde que associada à outras estratégias para a recuperação e prevenção da recaída. A supervisão médica é fundamental para a segurança do tratamento. É importante que a pessoa tenha certo equilíbrio mental: é uma experiência muito intensa e profunda e o risco de desencadeamento de transtornos psiquiátricos como o pânico pode ocorrer. A Ibogaína não é para iniciantes. Se eu faria de novo esta experiência? Sem a menor sombra de dúvida.

Pena que é tão caro.





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