Este é um assunto que posso falar com propriedade pois tive mais que 2 dezenas de internações, em vários ambientes. É algo que todo adicto (e aqui também falo dos dependentes de álcool) teme e que luta muito para que não aconteça. Luta em 2 frentes: contra a doença - uma luta inglória, pois já foi perdida há muito tempo - e contra o mundo - a família, os amigos, os colegas.... Em geral, somente quando se chega a uma situação-limite: ninguém aguenta mais, é que o adicto acaba internado (e vai por bem, quando colabora com o processo ou por mal, quando acaba indo restrito e, em geral, brigando e criando caso). Às vezes está tão mal que é incapaz de reagir. Normalmente, ao chegar na unidade de internação, chega cabisbaixo, derrotado, olhando para baixo e em condições físicas ruins. Alguns que chegam muito intoxicados podem estar agitados. É frequente que muitos já se conheçam de internações anteriores. Os que chegam embriagados muitas vezes tem uma felicidade meio pândega ao encontrar os companheiros. No dia seguinte geralmente estão envergonhados. Os primeiros 4 ou 5 dias são os mais difíceis, seja pelo desastre físico ou o grave comprometimento psíquico, por depressão, por vergonha, por tristeza. Existe uma coisa que costumo chamar de "Síndrome do Quinto Dia", quando o adicto percebe o caos que estava sua vida lá fora e começa a pedir para sair por inúmeras razões. Muitas vezes se sente injustiçado - pela família, pelos médicos, pelo mundo e, até que se completem cerca de 10 a 14 dias, quando principiam a se conformar com a situação e perceber a necessidade cabal de tratar-se. Neste período é que as síndromes de abstinência predominam, e muitas vezes também manifestas pela insistência em ter alta. Interessante que o adicto não percebe isso: ele acredita ser absolutamente legítimos seus pedidos para sair. Na segunda quinzena de internação, a maior parte dos adictos já estão percebendo os benefícios da internação. Estão comendo melhor, dormindo melhor, já se entrosam com os outros adictos.... Uma coisa que ninguém sabe até hoje: qual é o tempo mais adequado de internação. Alguns acreditam que curtos períodos, depois de passada a intoxicação e a síndrome de abstinência, o adicto pode ter alta, com um suporte ambulatorial rigoroso estabelecido lá fora. Depois tem alguns que falam em 3 semanas, 4 semanas, 2 meses e há os que acreditam que as internações precisam durar pelo menos 1 ano. Em geral isso não ocorre em hospitais, mas nas comunidades terapêuticas e fazendas.
Eu já passei por muitas fases: de querer sair logo, de achar que 1 mês era mais do que bom, e finalmente me rendi, e deixei que o psiquiatra que me cuidava tomasse, junto à minha família, a decisão com relação ao meu tempo de permanência. Hoje vejo que a pressa para sair, o contar os dias para ir embora, não são bons sinais. As irmandades de 12 Passos sempre falam na Rendição, no entregar-se ao Poder Superior e assumir que o controle da sua vida foi perdido. Se queremos ficar no controle, é provável que ainda não absorvemos por completo o Primeiro Passo: "Admitimos que éramos impotentes perante nossa adicção, e que nossas vidas tinha se tornado incontroláveis".
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