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Foto do escritorJosé Lurker

Nunca é o suficiente

Judith Griesel é uma neurocientista que teve graves dificuldades com drogas em sua adolescência e juventude, chegando a uma encruzilhada pouco depois dos 30 anos. Conseguiu ficar limpa (ela não fala direito de como alcançou a sobriedade) e resgatar a sua vida e sua dignidade. Não dá para saber de muitos detalhes de sua vida pessoal - este não é o foco de seu livro - mas entendemos que, após entrar em abstinência, ela fez um longo percurso acadêmico nas neurociências, e que tem filhos.

Companheiros, estou lendo um livro....

Soube deste livro em um depoimento de um companheiro do AA, em uma reunião online. Confesso que sou um pouco refratário à dicas de livros em reuniões das irmandade, pois frequentemente são livros meio banais de auto-ajuda. Diferente da Literatura de AA e NA, que são instrumentos poderosos na recuperação e cuja leitura - na minha opinião pessoal - é imprescindível para o entendimento da doença da Adicção e para a construção de uma Recuperação sólida e consistente.

Vício?

Chamou-me a atenção já na capa do livro a palavra Vício. Em geral evita-se esta expressão quando estamos falando dos Transtornos por Uso de Substâncias, pela acepção moral do termo. Os termos mais usados são Adicção, Dependência Química, Alcoolismo, Toxicomania, etc. A questão centra-se na tradução do livro, em que o termo Adicction é traduzido como Vício. Bem, de qualquer maneira isso me fez pensar sobre a nossa (compreensível) resistência em sermos chamados de viciados. Ele é viciado em cocaína. Ele é um dependente químico. Faz diferença? Creio que sim, mas às vezes já me pensei como viciado irrecuperável. Érico Veríssimo, escritor gaúcho, na sua obra-prima "O Tempo e o Vento", uma trilogia com 3 volumes - O Continente, O Retrato e O Arquipélago - descreve um personagem chamado "Pudim de Cocaína", que morava em um bordel e sobrevivia de pequenos roubos e da venda de cocaína para os frequentadores. Li este livro na adolescência, muito antes de conhecer a cocaína, mas este personagem me marcou, embora fosse um personagem menor. Minúsculo, a rigor.

A Neurociência e a Adicção

Judith Griesel explora muito a sua vivência nos mundo das drogas. Começou muito cedo, bebendo (nada muito diferente do habitual). Depois começou a fumar maconha, cheirar cocaína e usar heroína. Na verdade ela usou de tudo um pouco. Ou melhor, usou muito de tudo.

O seu livro explora em profundidade cada uma das substâncias que podem dar barato, incluindo nicotina e cafeína. Maconha, cocaína, medicamentos, opioides, drogas sintéticas, são exploradas em profundidade em cada capítulo. E como a autora é uma neurocientista, toda a neuroquímica da adicção encontra-se alinhavada ao longo da obra.

É um livro para quem deseja conhecer melhor toda a complexidade da dependência química, grave problema de saúde pública em todo o mundo, que acarreta dramáticas consequências individuais, familiares e sociais.



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