O nome original deste livro é "The strange case of dr. Jeckyll and mr. Hyde" e foi publicado em 1866, pelo escritor escocês Robert Louis Stevenson, em Edinburgh, onde vivia com sua esposa e o enteado. É uma as obras seminais da literatura britânica no século XIX., com várias adaptações para o cinema, bem como versões para o teatro - inclusive um musical - e para a televisão. É um livro que mantém sua atualidade por abordar uma questão cara à sua época, mas que até hoje impacta a imaginação das pessoas: a dualidade do ser humano. Este é um fato bastante controverso, no entendimento atual, que não vê a pessoa como fruto de um lado sombrio - pouco visível ao olhar cotidiano e um lado sociável , que respeita as leis de convivência harmoniosa com outras pessoas, referências éticas e morais. Embora a questão da dualidade seja uma forma confortável de se admitir espaços negativos em nós mesmos, contrapondo-se à imagem positiva que procuramos exibir socialmente, interroga-se se não se tratam de aspectos diversos de um único indivíduo, em seus diferentes matizes.
Um pequeno spoiler do livro
A história se passa numa Londres meio gótica, no período vitoriano, sempre nublada ou tomada pela noite escura. Dr. Jeckyl é um médico reconhecido por seus colegas e respeitado pelos pacientes. Cirscunspecto e solitário, mora na companhia de sua governanta e gosta de pesquisar, contando com um laboratório nos fundos de sua casa. Em suas pesquisas, ele descobre uma substância que ele acredita que possa ter efeitos estimulantes no psiquismo da pessoa, melhorando sua disposção e tornando-a mais vivaz - e resolve testá-la em si próprio. Ao tomá-la, sente-se muito mal por alguns minutos, depois do que percebe uma energia renovadora, diferente de tudo o que já havia sentido na vida. Ao olhar-se no espelho, defronta-se com uma criatura atarracada e feia, que somente de longe lembra os traços de Jeckyll. Hyde então resolve sair para a noite londrina, caminhando pelas áreas mais pobres da cidade, deslumbrado pelo que vê. No dia seguinte, o médico acorda em sua casa, sem lembrar quase nada do que aconteceu. Fascinado, Jeckyll resolve tomar novamente o elixir. O resultado é o mesmo, mas dessa vez Mr. Hyde percorre o bas-fond da cidade, bebendo, indo a bordéis, envolvendo-se com prostitutas e a ralé, de maneira luxuriosa e vil. Na medida em que Jeckyll vai perdendo o controle com a substância, torna-se cada vez mais ambivalente, pois Hyde - já imerso na violência e no crime - aos poucos vai tomando conta de sua vida. O médico passa a evitar seus amigos, tentando esconder de todos aquela criatura desprezível que habita dentro de si. Uma ocasião, Jeckyll constata horrorizado que transformou-se na criatura sem mesmo ter tomado o misterioso elixir. Então, após ter tomado a decisão de não mais usar a substância e brevemente retornar à sua vida normal, Jeckyll resolve experimentá-la uma última vez. As consequências são desastrosas: Hyde volta à cena com um furor assassino, dando um nocaute no médico e tomando, paulatinamente, o controle de sua vida. É quando um abatido e derrotado Jeckyll resolve contar o que vem acontecendo para seu amigo, o advogado Gabriel John Utterson.
Um binge de cocaína?
Li o livro duas ou três vezes, a primeira vez na adolescência - uma delas na versão original em inglês. Fiquei fortemente impactado pelo que li - eu me identificava profundamente com a história e seus personagens. Robert Louis Stevenson lutava contra a tuberculose, e fez uso de cocaína medicinal e possivelmente cannabis, com propósitos terapêuticos, algo relativamente frequente na época. Encontramos vários artigos que sugerem que Stevenson escreveu o livro em um binge de 3 dias de uso de cocaína. O escritor não teve uma vida tranquila. Embora a publicação de "O médico e o monstro" tenha permitido que ele vivesse um período de razoável estabilidade financeira, a doença - e sua suposta adicção - marcaram sua vida. Ele viveu seus últimos anos na Samoa, onde faleceu ao 44 anos.
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