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Foto do escritorJosé Lurker

Overdose

Atualizado: 20 de mai.

Uma overdose não tem nada de engraçado. Talvez somente uma coisa é digna de nota. Adictos e alcoólicos costumam falar entre si, com certo orgulho, de suas overdoses, seja informalmente, seja em reuniões de grupos de mútua ajuda ou em internações: "quase morri". Mas a overdose sempre é um fenômeno preocupante. Embora na maior parte das vezes ela aconteça em dependentes químicos já com certa vivência de adicção, ela também ocorre em marinheiros de primeira viagem, e pode ser fatal nestes casos. É sempre algo que precisa ser visto com muita atenção: é um sinal de alarme.

Todas as drogas causam overdose?

Não. As drogas mais frequentemente implicadas em overdoses são os opióides, a cocaína (particularmente se inalada ou injetada na veia - curiosamente o crack é menos propenso a causar overdoses), o álcool, barbitúricos (sim, drogas de prescrição podem causar overdoses) e anfetaminas (o MMDA é uma anfetamina). Entre as drogas sintéticas, o ecstasy está implicado em graves consequências clínicas (por desidratação e hipertemia) e a quetamina, por ser um potente anestésico, deve ser visto com cautela, embora não seja frequente o relato de fatalidades com esta droga. Maconha, nicotina, benzodiazepínicos e alucinógenos tem um baixo potencial de causar uma overdose.

Overdoses são sempre iguais

No aspecto de gravidade não há dúvidas que todas as overdoses compartilham um aspecto: todas são manifestação da gravidade da dependência. Talvez a questão mais relevante no presente momento seja a epidemia de opióides que tomou dimensões dramáticas nos EUA. Além de uma longa história de abuso de heroína, a curva de ascenção do uso de opióides nos EUA tornou-se mais evidente no século XXI, iniciada pela prescrição legal (médica) de analgésicos opióides. A partir daí foi cada vez mais frequente o abuso destas drogas fora do ambiente de prescrição. O fentanil, muito mais potente que a heroína ou a morfina, passou a ser produzido clandestinamente e desta forma, com dosagem, pureza e potência mais errática. E muitas overdoses fatais vem decorrendo disso.

Como se manifestam as overdoses?

Depende da substância ingerida. Não existe uma dose que seja fatal. A pessoa que usa a droga, de acordo com suas características, é determinante para a ocorrência de overdose. O tempo de uso da substância, a tolerância, o sexo, a presença de obesidade, o uso concomitante de outras drogas, todos estes fatores podem influenciar positiva ou negativamente no risco de overdose. Em geral, a overdose por opióides e álcool, depressores do sistema nervoso central, levam à rebaixamento do nível de consciência, coma e depressão respiratória. O alcoólico pode apresentar hipotermia. As anfetaminas provocam graves lesões cardíacas e neurológicas, e a overdose pode sobrevir principalmente por causas cardíacas, como por exemplo, arritmias. A cocaína tem várias manifestações de overdose - infarto agudo do miocárdio (há relatos de ser a principal causa de infarto em jovens), acidente vascular cerebral, convulsões e rabdomiólise, uma lesão muscular aguda, com necrose dos miócitos, que pode evoluir para insuficência renal aguda e necessidade de diálise (podendo às vezes não ser revertida, com necessidade de diálise permanente). Eu já me aproximei do coma com álcool e tive várias overdoses com cocaína, curiosamente manifestas sempre com rabdomiólise. Em 3 ocasiões precisei ficar hospitalizado, 2 vezes em UTI, para hidratação vigorosa e monitoramento cardíaco. Não é uma experiência que eu desejo para ninguém. Mas a dependência química é algo tão insano e cruel, que mesmo este tipo de experiência não me impediram de continuar usando a droga.


(PS: este é um depoimento pessoal e não deve ser usado como fonte de consulta).



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