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Foto do escritorJosé Lurker

Quatro dias a teu lado

Mais uma narrativa sobre o dependente químico e sua família?

Bem...nunca é. E a todas vale a pena assistir. Talvez sofrer um pouco, em especial quem é mãe de um dependente químico. Mas toda a história tem sua lição singular.

"Quatro dias a teu lado" aprofunda a análise da relação entre a mãe e a filha, esta dependente de opioides.

Baseada na história real de Amanda Wendler que recebeu, ainda adolescente, uma prescrição de Vicodin para uma torção na perna. Assim ela adentrou a multidão de americanos que se tornaram dependentes desta droga nos últimos vinte anos. Em seguida, o mundo das drogas ilícitas.

Os quatro dias de agonia da filha e de Deb, a mãe, se passam após 12 anos de dependência de heroína de Molly, atualmente em situação de rua, com a guarda dos filhos perdida e 14 tentativas prévias de desintoxicação.

Molly volta à casa materna, na promessa de mais uma tentativa de controle do vício. As cenas desse encontro em que Deb, a princípio, nega a entrada da filha na casa, são devastadoras para qualquer mãe.

O foco principal da história é a relação mãe/filha. Deb oscila entre as tentativas de não se envolver e os momentos em que acompanha Molly nos seus autoenganos e mentiras. As idas e vindas são marcadas pelo irritante tilintar de uma campainha de segurança das portas da casa, que simbolizam, a meu ver, as alterações de batimentos cardíacos da mãe, na expectativa constante: dessa vez vai dar certo?

Os quatro dias antecedem a tentativa de tratamento com Naltrexona, medicamento usado para evitar as recaídas. Mas para isso Molly precisa estar sóbria por quatro dias...e um possível plano para isso é narrado sumariamente pelo médico. Algo como: simplesmente “aguente” e retorne se aguentar.

Vivemos num país que não diagnostica suficientemente morbidades psiquiátricas de risco para dependência química, e por outro lado oferece facilmente prescrições de psicotrópicos genéricos, sem suporte psicoterápico e sem nenhuma abordagem familiar. De forma que temos milhares de mães e filhas vivendo esse drama, não por quatro dias, mas através de anos. É possível também assistir no filme aquela certa frieza dos serviços de saúde diante do dependente químico, tratado de antemão como pária social e irrecuperável. Postura que não leva ninguém a lugar algum.

Já o amor e cuidado de alguém...talvez.


Direção Rodrigo Garcia, com Mila Kunis (Molly) e Glenn Close (Deb) - acessível em Google Play e Apple TV.


Carla C. é médica





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