"Dentro de mim, bem no fundo, há reservas colossais de tempo, futuro, pós-futuro,
pretérito."
Carlos Drummond de Andrade
Nas irmandades de Doze Passos, fala-se muito nas Reservas . Da mesma maneira que se fala em Rendição e Aceitação. Mas o que são reservas? O Podcast S.O.S. Sobriedade tem um vídeo bastante didático sobre esta questão, que você pode acessar neste link. As reservas, teoricamente, são pensamentos, que podem ser conscientes ou não - talvez mesmo subconscientes - que apontam que alguma situação poderia quebrar as barreiras e te levar de volta ao uso de substâncias. Perdas materiais ou pessoais, sucesso pessoal ou financeiras, situações-limite ("isso não posso aguentar"), podem deixar o adicto vulnerável à tomar a atitude que sempre tomou, frente às adversidades: recorrer ao álcool e às drogas.
Brechas
Minha contribuição à ideia das reservas, que acredito bastante reais, mas que creio mais conscientes que inconscientes, mais escondidas do que inacessíveis - elas nunca são surpresas, o adicto sabe que estão ali, esperando o momento para serem acionadas - são as brechas.
E o que seriam estas brechas? As brechas são as ferramentas, os instrumentos que o adicto preserva para fazer com que as reservas possam vir à tona concretamente, e serem acessadas, abrindo espaço para que sejam acionadas e possam levar à consequência mais temida: a recaída.
Um número de celular acessível (mesmo que bloqueado), o encontro com uma pessoa francamente vinculada à ativa, o engajamento à comportamentos sabidamente insalubres - e adictos sabem quais são os comportamentos que o colocam em risco, enfim, como se observa sempre registrado nos locais de reuniões de irmandades de Doze Passos: evite pessoas, lugares e hábitos - estas são as brechas atrás das quais estão presentes as reservas. Quando os "evite-se" são minimizados, abrem-se as brechas, que podem ser estreitas - mas às vezes são largas, visíveis para qualquer um com um mínimo de bom senso, menos para o adicto que está se engajando em um comportamento de procura, ou de busca.
As reservas, pelo que se aprende nas reuniões, conversando com outros adictos e com padrinho ou a madrinha, devem ser compartilhadas e esclarecidas, e quando elas querem se manifestar, quando enxergamos as brechas se abrindo, é hora de pedir ajuda. E pedir ajuda é sempre antes - ou deveria ser. Pedir ajuda sempre é difícil, mas é uma atitude essencial em Recuperação. É um aprendizado diário. Quero dizer isso para mim mesmo: peça ajuda, antes que seja tarde. Porque já sei - cometi tantas vezes o mesmo erro, esperando resultados diferentes - que depois de desencadeado um processo de comportamento de recaída, a capacidade de pedir ajuda vai ficando cada vez mais distante.
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