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Foto do escritorJosé Lurker

Só por hoje e para sempre

O rock brasileiro emergiu na década de 1960. Celly Campello e o Estúpido Cupido , Roberto Carlos e o Tremendão com seu Calhambeque e, claro, os Mutantes. Tinha também Renato e seus Blue Caps e outros. Na década de 1970 mergulhamos no Rock Progressivo e no experimentalismo, bastante alimentados pela cultura psicodélica. Representam essa época o Casa das Máquinas, o Som nosso de cada dia, o Vímana - em que participaram os improváveis Lulu Santos, Lobão e Ritchie. O Terço foi uma banda paulistana que marcou época, com grande performances instrumentais e um visual vanguardista. Bem, em verdade eram todos assim. Na época, a contracultura estava no auge, e com ela o consumo de drogas vinha junto - cogumelos, maconha, LSD . No Rio Grande do Sul, o Bixo da Seda marcava época, com uma batida mais roqueira. Fora do Rockn'roll, a música popular brasileira recebia levas de músicos que, vindos de várias regiões do país, buscar novas perspectiva no Rio e São Paulo. Assim, bahianos, mineiros, cearenses, pernambucanos vinham tentar seu lugar ao sol e seu naco de sucesso. Em 1973 os Secos & Molhados gravaram um álbum que foi um divisor de águas na música brasileira.

O Rock brasileiro renasce

A década de 1980 testemunha um verdadeiro renascimento do Rock brasileiro. Brasília e São Paulo puxam o carro. RPM, Ira, Nenhum de Nós, Titãs, Paralamas do Sucesso, e, longe demais das capitais, os Engenheiros do Havaí. O Rio de Janeiro comparecia com o Ultraje a Rigor, Gang 90, a Blitz, Lobão e seus Ronaldos, o Kid Abelha. Da Bahia vinha o Camisa de Vênus, do Rio Grande do Sul os Cascavelettes. Cazuza impulsionou o Barão Vermelho ao céu. Mas uma banda, vinda de Brasília, impressionava pela qualidade e profundeza de sua música, pela irreverência de suas letras e posicionamento político antiestablishment . A Legião Urbana vinha na onda do novo rock brasileiro e um de seus componentes se salientava dos demais: Renato Russo. Ele era o compositor e compositor da banda, e sua letras causavam verdadeiro furor. No palco, Renato no palco apresentava-se de maneira nervosa, iconoclástica. Tinha uma personalidade forte com opiniões polêmicas.

Pergunte ao pó*

Porém, um fantasma rodeava essa geração de músicos. A cocaína começava a se alastrar no país, vinda dos anos 1970 com o glamour de uma droga de classe alta - era cara - e que não provocava dependência física, somente psicológica. Falava-se que em festas da elite, carreiras eram servidas em bandejas de prata. Bem, a moçada enfiou o pé na jaca. E junto com o pó, vinha o álcool. Uma parte mais equilibrada da turma percebeu que vários amigos estavam descendo a ladeira e puxaram o freio. Renato Russo não. Renato Russo era um adicto, que usava quantidades industriais de álcool e cocaína. O consumo se tornou cada vez maior, desgastando sua relação com os amigos, e com impacto na sua relação com a banda. Renato acabou sendo internado em uma clínica para reabilitação de dependentes químicos - a Vila Serena, no Rio de Janeiro, que tinha em sua filosofia de trabalho o programa dos Doze Passos. Nesta época Renato já havia assumido publicamente sua homossexualidade. O livro "Só por hoje e para sempre" fala de todas estas coisas, especialmente deste período em que esteve internado.

A vida é bela

Às vezes, nem tanto. Renato contraiu o vírus do HIV, numa época em que o tratamento era escasso e morria muita gente de AIDS Renato tinha gravado 2 CDs belíssimos, de canções inglesas e italianas. Mas estava muito deprimido, solitário e arredio. Renato morreu em outubro de 1996, aos 36 anos. Deixou um filho com 7 anos.


*Livro de John Fante, escritor americano.




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