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Uma jovem adicta à opioides

Atualizado: 20 de mai.

Ela tem 23 anos. Adolescente enfrentou uma doença maligna com necessidade de cirurgia e quimioterapia. Teve dores intensas e precisou usar morfina. Foi acompanhada por um grupo especializado em dor. Este foi somente o começo de uma longa e infeliz história. O câncer foi curado. Mas outra doença, insidiosamente, foi tomando espaço na vida de E.

Opioides

A dependência de opioides é uma verdadeira epidemia nos EUA. O início é semelhante: a prescrição de um analgésico, frequentemente para doenças pouco agressivas. O analgésico, muitas vezes, é um opioide. Caso a pessoa tenha alguma vulnerabilidade, seja física, psicológica ou genética, torna-se um solo fértil para a instalação da dependência, que começa com remédios de potência menor e vai escalando para medicamentos cada vez mais fortes. E as prescrições médicas vão se tornando mais escassas. Desesperada a pessoa vai buscar a droga 💉 na rua. E aí os problemas se multiplicam; tráfico, violência, contravenção, prostituição, inúmeras perdas e afastamento da família e da sociedade - trabalho, religião, a vida em comunidade, afinal. A heroína já foi o narcótico ilícito mais prevalente na rua. Milhões de pessoas sofreram pelas severas crises de abstinência provocadas pela heroína. Milhões morreram por overdose. Outros tantos adoeceram: AIDS, hepatite, infecções de pele, endocardite, miséria física, psicológica, social, moral e espiritual.

Fentanil

A realidade mudou. Se por um lado políticas públicas de redução de danos com fornecimento de seringas e agulhas e lugares limpos e seguros para o uro das substâncias associados a oferta de serviços sociais e cuidados médicos, por outro lado o surgimento de uma ameaça mais grave agravou o problema. O Fentanil, usualmente utilizado exclusivamente sob supervisão médica, em anestesia ou for crônica associada ao câncer ou final de vida, passou a ser usado por dependentes químicos de forma cada vez mais frequente. E a partir de uma demanda que se avoluma dia após dia, a produção por laboratórios clandestinos ganhou espaço - e as doses da droga e sua pureza se tornaram imprevisíveis - e as mortes por overdose se multiplicaram.

O despreparo técnico

Os serviços de saúde - e os serviços de urgência - não estão capacitados para o atendimento dos adictos à opioides. Não sabem tratar nem as overdoses, nem as síndromes ds abstinência. Pelo menos no Brasil, o preconceito ainda é generalizado, fortemente influenciado por uma visão moral do problema, não reconhecido como uma doença nem que se trata de uma pessoa em profundo sofrimento. "Viciada", "Só vem aqui para tomar morfina, todos os dias está aqui", "Eu me recuso a tratar"... e por aí afora. Este preconceito começa no médico e vai contaminado toda a equipe multiprofissional. O olhar em geral é de desprezo: "não quer melhorar", "se quisesse, parava". O infeliz às vezes nem sabe de sua condição - agarra-se à sua dor, real ou imaginária, na esperança de obter alívio: com uma dose da droga. E ficam batendo nas portas dos pronto-socorros, onde encontram profissionais de má-vontade (isso serve para qualquer substância: o alcoolista costuma ser tratado como lixo 💆‍♂️ , principalmentese intoxicado) e raramente são encaminhados para - quando o são, encontram barreiras e dificuldades logísticas: acesso ruim, falta de profissionais, seja em número como em capacitação. Orientação sobre hábitos saudáveis, irmandades de Doze Passos e peculiaridades clínicas das dependências são infrequentes. A desigualdade social é aguda: pretos, pobres, favelados, pessoas LGBTQIA+são ainda mais maltratados.

Terceiro Passo

E. não sabe de sua doença. Acredita ter um problema na coluna que provoca a dor que verdadeiramente sente. Depois de pesquisar no Google, soube de um médico que opera dor crônica em algum lugar pouco conhecido. O risco de cair nas mãos de um charlatão e ser submetida à procedimentos arriscados e potencialidade lesivos é enorme. Inclusive do ponto de vista financeiro. O médico 🚑 que atendeu é um adicto em recuperação. Longamente explica sobre a doença, aponta as possibilidades terapêutica, a necessidade de aceitação do problema, a existência de grupos como os Narcóticos Anônimos, enfim. Prescreve a Metadona. E coloca nas mãos do Poder Superior, conforme aponta o Terceiro Passo: a entrega da vida e da vontade aos Seuscuidados, sabendo que o controle que tem sobre a própria vida é escasso. Sobre a vida do outro é praticamente nenhum. Seja o que Deus quiser. Com toda a sinceridade do mundo 🌎.



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