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Foto do escritorJosé Lurker

Você também caiu na rede?

"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a

moldura é que é diferente."

Florbela Espanca


O novo código Internacional de doenças , conhecido como CID XI, se debruça sobre comportamentos adictivos, chamando-os por  Transtornos devido a comportamentos de dependência. São 3 códigos:- 6 C50, o transtorno por jogo - 6 C51, o transtorno por jogo eletrônico e 6 C5Y, outros transtornos especificados devido a comportamentos de dependência. Mas a adicção às telas vai muito além dos jogos, e as redes sociais hoje são uma maneira de captar a atenção das pessoas e mantê-las por horas coladas às telas dos mais diferentes aparelhos, particularmente um deles cabe na palma da mão: o celular.

Radio Escafandro é um podcast criado pelo jornalista e escritor Tomás Chiaverini bastante longevo: mais de 100 episódios. E já explorou dezenas de assuntos, sempre em profundidade. Tomás não deixa barato: quando resolve investigar uma questão, vai fundo: explora em detalhes, procura as pessoas certas, enfim, jornalismo investigativo de qualidade. O nome Escafandro deve ter a ver com isso: afinal, este negócio é para ser usado quando a pessoa vai fazer mergulhos em grandes profundidades. Enfim.

O último episódio do podcast se chama "Por que você continua nas Redes?". Juro que saí muito impressionado, quase chocado, ao ouvir, durante uma hora, a voz calma e suave - mas dura também - de Tomás conduzindo entrevistas e fazendo seus comentários certeiros. Um grande jornalista; "jornalismo para quem gosta de ouvir", como diz o mote do programa.

Fear of Missing Out - FOMO

Ele entrevista um pesquisador brasileiro que vive em Chicago, Leonardo Bursztyn, que tem conduzido pesquisas sobre o que mantém as pessoas na "social media" - como são chamadas as redes sociais nos EUA. O pesquisador descreve até uma síndrome - FOMO - "Fear of Missing Out" (algo como o medo de perder algo, significando que a ausência nas mídias sociais podem deixar a pessoa angustiada por não ficar sabendo de coisas que a turma soube através das... redes sociais) e os mecanismos, estrategicamente, racionalmente, friamente elaborados pelos quais os "Donos das Redes" para captar sua atenção e fixar você ali por horas. Dias, semanas e meses. Anos. Atenção: isso vale dinheiro! Tomás perguntou para seus ouvintes: "você está viciado em celular?". 90 % (noventa por cento) respondeu que sim. Um soco no peito. E aí explora o porque as pessoas ficam nas redes sociais, mesmo não querendo. Não quero mas fico. Isso não lembra adicção à substâncias? A pessoa continua usando uma substância, mesmo sabendo que ela está lhe fazendo mal, tendo consequências às vezes catastróficas.

As pessoas estão ficando doentes

É por aí que a reportagem caminha, então. A segunda entrevistada, Carla Cavalheiro Moura, faz parte do Pro-AMITI , um projeto do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que estuda os mais diversos transtornos do impulso, entre eles a dependência digital. Neste ponto a coisa pega fogo: as pessoas estão ficando doentes, mentalmente comprometidas, com severo impacto em suas vidas psíquicas e sociais, em decorrência das longas horas passadas nas redes. Jogos eletrônicos também destroem vidas - uma destruição que não é a morte, mas sim um arremedo de vida. Sites de apostas esfarelam as pessoas. Uma das entrevistadas é uma alcoólica, que consegue perceber as similaridades das situações: o alcoolismo e a dependência digital. A boa notícia é que o projeto do IPq oferece alternativas, com uma abordagem bem holística, para superação destas situações.

Não deixe de ouvir!

Não deixe de ouvir este episódio. Adicto ou não, vai te ajudar a compreender que a obsessão, a compulsão e o egocentrismo podem ir muito além do uso de drogas. E trazerem importantes prejuizos para as pessoas, comprometendo uma vida que poderia ser mais produtiva, sociável, quiçá até feliz, com uma relação mais racional e saudável com as redes sociais. Redes tem este nome não é por acaso: diferente do anzol, elas não pegam um peixe. Pegam cardumes.






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